Somos a família Castro Baptista e este ano acolhemos pela primeira vez por um período de 1 ano letivo a nossa Beatrice .
As nossas expectativas ao acolher a Beatrice era a de termos uma experiência mais tranquila, sem grandes choques culturais, que nos permitisse ” disfrutar ” de alguma calmia numa família já de si numerosa e ” barulhenta”. Escolhemos uma nacionalidade com várias semelhanças com a nossa pois, achava eu, seria menos desafiante. Por um lado até foi, por outro, esperávamos uma ” italiana” que falasse alto como os portugueses, que fosse extrovertida e veio uma menina muito introvertida, muito a medo.
A nossa relação foi crescendo com o tempo, fomo-nos descobrindo e adaptando de forma quase impercetível. Há de facto várias semelhanças com a cultura italiana, mas também várias diferenças .
O maior desafio acabou por ser a parte da sociabilização da Beatrice com os seus pares na escola . Até ela dominar a língua, inibia-se muito de falar o que acabou por ir dificultando a sua adaptação no meio escolar. Tal não aconteceu com os colegas AFS pois tinham uma língua comum, o inglês. Outro desafio foi o facto de esperarmos que fosse fotografar tudo, filmar, etc etc. A Beatrice fotografou pouco, filmou pouco, mas foi apreciando cada momento e cada experiência que viveu.
Felizmente a Beatrice começou a conseguir falar português rapidamente e com facilidade mas sinto que ela só deixou de ” ter vergonha” de falar em Português a partir de Dezembro. A forma que ajudamos a se tornar mais confiante foi definir uma data a partir da qual só falaríamos em Português, fosse o termo verbal corretamente aplicado por ela ou não e corrigiríamos para que fosse aprendendo. A Beatrice é uma menina que aceita muito bem ” a crítica ” e aprendeu muito depressa a falar corretamente português.
O nosso maior receio inicial era a sua integração com os colegas pois ( e também pela pandemia ) pouco saia, pouco confraternizava fora do horário escolar, mas com incentivo nosso e a aprendizagem do português, foi ultrapassando e hoje tem algumas grandes amizades portuguesas.
Sentimos que o momento a partir do qual a Beatrice passou a ” estar verdadeiramente ” em Portugal, de corpo e alma, foi na passagem de ano. 
Não consigo destacar um momento mais marcante, mas alguns como a passagem de ano, em que a vimos mais desinibida e alegre ou quando adoeceu e fomos ao hospital e ela se aninhou no meu colo. Sempre senti que a Beatrice confiava em nós, ainda que ” perfeitos estranhos” e isso foi algo que sempre gostamos de sentir. Houve vários momentos alegres, ou não fossemos 6, com 4 menores em casa , uma casa cheia 🙂
Quanto às mudanças na Beatrice, bom, desde a sua inibição que já acho que nem existe, à sua confiança em si e nos outros. A Beatrice tinha alguns medos, como por exemplo de animais de grande porte e hoje em dia, já faz festas a cavalos, javalis, porcos vietnamitas, o que for :).  Com esta confiança em si mesma, veio também o à vontade, o deixar de ter vergonha de rir alto, de fazer danças em público, de ” fazer figuras ” com as irmãs. Há sempre um reverso, as irmãs deviam aprender mais boas maneiras com ela, ao invés, a Beatrice envolveu-se nas brincadeiras das irmãs…  
Enquanto família não tivemos grandes alterações, a Beatrice adaptou-se rapidamente , nós respeitamos a sua intimidade e timidez inicial e com o tempo, foi confiando e se desinibindo.
Como família, aprendemos que os estereótipos relacionados com uma nacionalidade são isso mesmo, os italianos não são todos extrovertidos, barulhentos e alegres .
Não nos arrependemos de ter feito ou não feito alguma coisa, passeámos sempre que possível, mostramos quase todas as regiões de Portugal continental e conhecemos em conjunto outras tantas cidades, tivemos tempo em família e tempo a sós.
Foi uma experiência muito positiva que deixa muita saudade. Ganhamos mais uma filha, uma irmã, uma neta, uma sobrinha, prima…toda a família a acolheu e foi acolhida.
Obrigada AFS
Família Castro Baptista