E um mês se passou. Um mês na Costa Rica. Ainda ontem não sabia o que meter na mala. O melhor conselho que posso dar? Venham. E venham com tudo. Com toda a roupa que pensam que precisam? Não. Acreditem que não vão precisar de metade. Mas com toda a alma? Sim.

Estejam abertos a novas possibilidades e ideias. Não pensem que vai ser um paraíso todos os dias, porque não vai. Mas façam tudo ao vosso alcance para que assim seja. Sejam muito felizes. Aproveitem tudo. Experimentem tudo.

Para as pessoas que estiverem a pensar vir para a Costa Rica para o ano: tragam roupa fresca. E esqueçam lá os casaquinhos de malha, mães e avós. Aqui os vossos filhos e netos vão estar cobertos por um manto de humidade, a toda a hora. Não vão precisar disso.

O que é que eu posso contar sobre a minha experiência neste país “chiquitito”? Tantas coisas! Vi uma preguiça no meio da rua. Vi baleias. Nadei em água quente. Fui roubada por macacos. Aprendi que é normal, e até benéfico, ter lagartos à solta dentro de casa. Vi aranhas, sapos, caranguejos, lesmas, e tudo e mais alguma coisa de todas as cores e mais algumas. Isto tudo e já sei falar espanhol. Ou pelo menos, consigo fazer-me entender bem. E só se passou… Um mês. E ainda faltam mais dez destes. Mas passa a correr. Claro que não é tudo um mar de rosas. Também chorei. Muito. Ao despedir-me, quando cá cheguei, quando vim para a minha família de acolhimento… E depois há sempre aquela marcação semanal de “Saudades” que não escapa.

No último mês em Portugal ainda não me acreditava que isto ia mesmo acontecer. Na última semana tinha demasiadas coisas para fazer, o que nem sequer me permitia parar e pensar nisso. No último dia estava mais que entusiasmada. Na última noite… Nervosa. No primeiro dia cá… Quis voltar para Portugal. E isto aconteceu com quase todos os amigos maravilhosos que eu fiz a partir da AFS. Faz parte.

Tanto os de Portugal que estão noutros países, como os dos outros países que estão comigo na Costa Rica, passaram por esta fase horrível e quiseram, pelo menos uma vez, voltar para casa e para a zona de conforto. Mas não voltaram. E se ao fim de um mês formos perguntar a cada um deles se se arrependem de ter vindo… Espero que saibam qual é a resposta. Não? Então eu digo-vos. Não. Não me arrependo. Nem um bocadinho. Custa. Não vou mentir. Custa muito. Cada dia parece um ano e demora a passar, mas depois olhamos para trás e já se passou um mês. É uma oportunidade que muitas crianças e adolescentes desejavam ter e não podem. Pensar em desistir deixa-me com mais e mais vontade de continuar. A vida é feita de altos e baixos, e às vezes quando estamos em baixo não conseguimos esperar os altos. Mas a verdade é que eles existem, e vão acontecer.

Outro conselho? Dêem tempo ao tempo. Não ajam por impulsos e desistam do melhor ano das vossas vidas só porque tiveram um mau dia ou uma má semana. Vai ser mais difícil do que esperaram, e quando assim for, recorram aos amigos que fizeram, que estão na mesma situação, e que vos adoram.

Só eu sei o quão agradecida estou por ter encontrado a AFS, que agora é mais uma família que eu tenho, e por ter ganho esta bolsa que me deu acesso a esta oportunidade. A minha família de acolhimento trata-me como mais uma. Tenho a certeza que, mesmo depois de a experiência acabar, esta vai ser a minha outra casa. Os amigos que fiz vou levar para o resto da minha vida. Cresci e vou crescer ainda mais.

Sim, as saudades são muitas de Portugal. Da minha família, dos meus gatos, do meu peixe, da minha tartaruga, e dos meus amigos. Mas a vida não pára, e temos que aproveitar o melhor que sabemos enquanto temos a oportunidade para o fazer. Viver na zona de conforto não é viver, é sobreviver.

Cada experiência é uma experiência, mas eu estou aqui para partilhar a minha convosco. Falem comigo se precisarem, procurem-me no YouTube e sigam em primeira mão o que se anda a passar comigo neste país que agora também é meu.

Inês Aguiar | Estudante AFS 2016/2017 | Portugal – Costa Rica