A nossa aventura com a AFS começou em 2007 com um estudante vindo das Ilhas Faroe, com 18 anos, 1,97m e muitas sardas, que só fazia lembrar o Tom Saywer em ponto muito grande.

Como eu também fiz um programa de intercambio, tinha curiosidade de saber como era o outro lado, isto é, receber alguém em nossa casa, que não conhecemos e, temos de tratar como se fosse família… não é tarefa fácil!

O Mikkjal foi, portanto, o nosso primeiro “filho” AFS. Devo dizer que não foi fácil, pois era um miúdo que não estava a fazer o programa com muita vontade, foi mais do tipo, a irmã fez, a mãe fez e ele também tinha de fazer. Com todos os altos e baixos, com todas a peripécias desse ano, o mais interessante foi que passados 5 anos tentou entrar em contacto com o João (meu filho, portanto irmão de acolhimento) pois tinha vergonha de falar connosco, achava que tinha sido “mau filho”. Ficámos comovidos com ele e, ainda falamos de vez em quando, em inglês, pois nunca aprendeu o português.

Entretanto tornei-me voluntária da AFS e, consegui trazer vários miúdos para Benavente, vila pequena onde vivo, ficando como voluntaria de contacto de quase todos eles. Muitos desses miúdos passaram por minha casa, por uma razão ou outra. Vinham jantar, vinham passar o fim de semana, alguns até passavam cá férias quando os pais de acolhimento tinham viagens marcadas. Como diz Sant-Expéry “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” e, por isso tenho numa parede um mapa mundo onde tenho as fotos de todos os que nos deixaram alguma coisa.

Diego do Paraguai, ficou só por uns dias, durante uma atividade que organizei, mas que nos tocou o coração com a sua história, de algumas carências no Paraguai, de como arranjou uma bolsa para vir e, porque estava numa família monoparental, ficou encantado de finalmente ter uma “mãe”. Ainda hoje me manda mensagens todos os anos no dia da mãe!

Haukur da Islândia, ficou por mais de um mês, vindo de Braga, com uma história mal resolvida com uma namorada. Gostámos tanto dele que queríamos muito que ficasse até final do programa, mas ele disse que tinha muitas saudades do gelo, vá-se lá entender!!! Entretanto vem-nos visitar quase todos os anos. A minha filha costumava dizer quando o íamos levar ao aeroporto “Com o Haukur nem precisamos de chorar, pois ele sempre volta” e voltava. Há 5 anos fomos visitá-lo. A família dele estava tão agradecida pela nossa amizade, que nos recebeu de braços abertos, acolheram-nos em sua casa e, fizeram-nos um jantar como se fosse Natal e, ainda há quem diga que os nórdicos são frios… O Haukur é definitivamente o nosso filho do gelo.

Depois veio a Solveig da Alemanha. A Sol, como lhe chamámos, vinha para ficar um mês, como família de boas vidas. A Sol “encaixou” de tal forma em nossa casa, que quando ligaram da AFS a dizer que tinham arranjado família para ela, ninguém esperava que ela se fosse embora. E não foi. Ficou para sempre a nossa filha alemã, a nossa “alemanzinha”. Fez inteiramente, parte da nossa família durante um ano. Aprendeu a falar corretamente o português (ainda hoje falamos em português), foi a todos os sítios onde fomos, foi connosco de férias para a neve, pediu extensão de tempo para ficar e foi connosco de férias para a praia. Quando partiu, em agosto, já tinha viagem marcada para voltar em outubro. Entretanto já nos visitou com os pais, com os irmãos e com o namorado e, quando ela não vem cá, vamos nós lá. Já visitamos a casa dela em Eslingen, já nos encontrámos em Berlim e, as últimas férias juntas foram na Ilha do Pico, onde os pais também vieram. Por causa da Sol, fizemos uns amigos na Lousã, onde estava outra miúda alemã. Por causa da Sol os meus filhos ficaram amigos dos filhos dessa família e, o meu filho, que fez o programa em Itália, influenciou a filha desse casal a fazer também. Por causa da Sol ter trazido os pais a visitar Benavente, conheceram uma menina chamada Ema, que estava inscrita no programa para ir para a Alemanha, mas ainda não tinha família e, foi fazer o programa a casa dos pais da Sol. Essa menina conheceu o namorado Espanhol nesse ano e vivem agora, os dois na Alemanha, na mesma cidade onde, entretanto a Sol vive. Por causa da Sol, temos outra família na Alemanha.

Entretanto passaram por nós outros tantos, como a Cristina Évora de Itália, mas que tinha origem Cabo Verdiana (ainda era prima da Cesária Évora). A Laura do Chile, muito étnica que tocava violino nas ruas de Lisboa. A Mia do Japão que aprendeu a falar português corretamente e já nos veio visitar com a família também. O Kittirat da Tailândia que não sabia o que era uma máquina de lavar a louça. A Isabella dos EUA que era vegetariana, mas nós não sabíamos. O Apu da Gronelândia, que não falava inglês e havia Post-it’s pela casa toda. A Martina dos EUA que cantava o fado como muitos fadistas não cantam. O Louis da Nova Zelândia que ainda acompanha o andebol do meu filho e o futebol português. O José das Honduras, que foi “filho” de acolhimento da família da namorada do meu filho e, que se encontra a estudar em Portugal neste momento.

Entretanto também conheci vários voluntários em formações internacionais, que também têm um lugar no nosso mapa. A Anna da Rússia que já nos visitou, a Monika da República Checa, a quem já visitamos….

Os meus filhos também foram os dois estudantes AFS. O João em Itália, Bergamo, numa família com muitas peripécias também. A Filipa na República Checa que correu menos bem, pois tudo foi mais difícil, desde a língua à comida, mas a família também já nos veio visitar.

A AFS encurta o Mundo e, como diz o meu marido, faz-nos viajar sem sair de casa. Aprendemos imenso com todos estes miúdos e, principalmente, aprendemos a ser tolerantes, a não julgar antes de saber o porquê.

Continuarei a ser voluntaria AFS até puder…

Porque a Terra é azul como uma laranja…