Como me sinto a dois dias de partir? Impossível dizer porque não é possível descrever.

Tenho aqui uma família, e é a melhor família que poderia ter pedido, sinto-me em casa e sinto-me feliz, super feliz. Não imagino dizer-lhes adeus, não me imagino a viver sem eles. Acolheram-me como uma filha, mesmo quando no dia anterior não era mais do que um nome numa folha. Abriram-me as portas da sua casa, acolheram-me, ajudaram-me, ajudaram-me e ajudaram-me. Pessoas espetaculares, sempre com um sorriso na cara, só as suas presenças fazem-me sentir segura. Nunca lhes chamei mãe ou pai mas não é por isso que não o sinta. Raramente me faltam as palavras mas não consigo agradecer o suficiente a estas duas pessoas.

Cheguei a este país sem saber uma palavra de italiano, sem conhecer uma pessoa e agora tenho uma vida aqui. Quando deixei Portugal sabia que retornaria, retornaria para casa, para a minha primeira família e para os meus melhores amigos (que me sinto tão abençoada por ter, raramente uso o termo amar mas amo-os).

Mas deixar esta vida é diferente, ainda mais difícil do que deixar a primeira. Explico porquê. No momento em que entrar naquele avião com destino a Lisboa a minha vida em Itália acaba, acabou, mais do que esta aventura, esta vida. Sim venho visitar, sim eles vêm-nos visitar mas não vou viver mais nesta casa, neste lar, não vou para a escola italiana, apanhar o autocarro para casa ou ir para Turim sábado depois das aulas.

E depois existem também os amigos… Cheguei aqui com a mentalidade que as pessoas no norte de Itália não eram muito amigáveis mas não foram precisos muitos dias para essa mesma mentalidade mudar, mudar radicalmente, chamem-lhe sorte, chamem-lhe o que quiserem mas a verdade é que aqui conheci algumas das melhores pessoas que já conheci em toda a minha vida, a quem também não me imagino dizer adeus, a quem não quero dizer adeus, de quem me vem aquele nervosismo no estômago de pensar dizer adeus, de quem nunca me esquecerei porque cada um deles fez o meu intercâmbio ainda mais especial. Um ano que me mudou a vida, a mentalidade, a vontade de viver, de ver, de conhecer, de não parar.

Há um ano trouxe com o maior orgulho a bandeira portuguesa para terras italianas mas uma coisa que o intercâmbio nos faz é que, se ao mesmo tempo nos sentimos mais patrióticos do que nunca também nos sentimos menos, porque agora posso dizer que me sinto metade portuguesa metade italiana e este país terá sempre uma enorme parte desde coração português.

Itália, eu amo-te.

Mariana Castro | Estudante AFS 2015/2016 | Portugal – Itália