“Tudo começou num desafio inesperado, proposto por uma amiga nossa que já tinha sido mãe de acolhimento algumas vezes… choviam pedidos por parte da AFS pois procuravam famílias de acolhimento…muito rapidamente ficámos cativados e ansiosos simultaneamente; vivenciámos uma semana de pressão, as questões eram mais que muitas, estávamos prestes a entrar numa aventura de parte a parte e eis que o guerreiro, vindo da península italiana, entrou no nosso lar.
A nossa primeira preocupação no seio da novidade, era saber como cuidar de um filho, com 17 anos, que na realidade não era nosso… como criar um laço maternal, sendo nós uma família que valoriza ao máximo momentos em família, a partilha e a união em tudo o que fazemos, quer seja nos momentos bons ou menos bons… Certificarmo-nos acima de tudo de que ele nos viria a amar, do mesmo modo que amamos desde o primeiro instante, sem que prejudicássemos os nossos valores da educação e as regras em casa.
Todas as dúvidas foram sendo esclarecidas, e as respostas às perguntas, que inicialmente ficaram no ar, foram surgindo, ao longo destes meses nesta experiência, na qual embarcámos juntos… Temos a noção de que não foi fácil, o G. ganhou uma irmã de 5 anos, que está numa fase que requer muita atenção e muita brincadeira, ambos muito rapidamente criaram uma ligação muito forte, embora, ao longo do tempo o G. foi-se deparando com a dificuldade de gerir a sua paciência com a exigência normal de uma criança de 5 anos… por outro lado, e como em todas as famílias normais, juntos, batalhámos com o objectivo de conquistar um ponto de equilíbrio, uma vez que as diferenças de personalidade diferiam um pouco.
O G. adaptou-se muito bem à nossa família, à escola, à língua portuguesa, que aprendeu a falar muito bem e rapidamente. É um irmão que faltava à nossa filha, é um filho que nos preenche o coração, e vai ser sempre até ao fim dos nossos dias ou até que ele permita.
A gastronomia portuguesa e os pratos confecionados pela mamã não foram um problema, muito pelo contrário, o que nos tranquilizou bastante.
Desde início, a iniciativa à partilha das tarefas da família nunca foi o seu forte, mas sempre que solicitávamos ajuda correspondia sempre, e aos poucos o G. foi-se integrando nesse hábito que sempre fez parte da nossa rotina; quando fazemos as coisas fazemo-lo em conjunto, e estamos sempre juntos, é essa a nossa essência como família.
Atualmente eu e o meu marido olhamos para trás no tempo, e num culminar de sorrisos e lágrimas de emoção, porque já falta pouco tempo para o nosso menino regressar ao seu lar, constatamos que somos uns afortunados pelo desafio que nos foi colocado nas mãos, e que abraçámos com todo o nosso amor e dedicação, sentimos que o G. é um de nós e será recíproco… Que a nossa missão está a terminar mas será contínua no coração, porque o lugar que ele veio ocupar nas nossas vidas teve uma dimensão e um impacto muito forte, e sabemos que quando a saudade apertar vamos certamente falar ao telefone ou quem sabe um dia fazer uma visita… Uma coisa é certa, o G. sabe, que a nossa casa vai ser sempre dele também, as vezes que quiser.
Aconselhamos vivamente a experiência, principalmente às famílias que sintam que ainda têm muito amor para partilhar… vão descobrir, que ainda existe mais amor dentro delas além daquele que lhes era conhecido. Aconteceu connosco.”
Testemunho de,
Ângela e Bruno