No passado dia 5 de Abril fez 7 meses que estou em Itália. Bem, por onde começar?

Sou a Margarida, tenho 17 anos e estou em Como, norte de Itália, há cerca de 6 meses.

Sinceramente, não sei bem a principal razão pela qual quis participar neste programa. Se calhar foi um misto de razões, se calhar foi só para provocar os meus pais uma noite. A verdade é que estou aqui, a viver o ano da minha vida!

O início não foi nada fácil, mudei logo de família na primeira semana e pensei “não devia estar aqui, de todo! Isto não é para mim!”, eu sei, eu sei…logo na primeira semana, parece que me esforcei pouco mas foi o melhor que me podia ter acontecido.

Depois de cerca de 1 mês e meio, transferi-me de Pescara (centro) para Como (Norte). Comecei a acreditar no destino, como me ensinou uma amiga de Pescara.

Por engano, o perfil da minha actual família foi calhar às mãos da pessoa responsável em encontrar-me uma família nova. Normalmente, quando há mudança de família tentam que seja sempre na mesma zona, assim não há mudança de escola, cidade, amigos, etc… mas foi mesmo por engano, porque de Pescara a Como ainda é alguma distância.

Também talvez por engano, chegou-me aos ouvidos e como já não estava a sentir-me nada bem onde estava, queria começar de novo, numa cidade nova, com pessoas novas e perguntei se podiam entrar em contacto com esta família. “Não me parece, porque esta família está disponível para acolher só por 2 meses, não mais do que isso, mas posso perguntar.” É aqui que entra o destino, a família tinha aceitado! Três dias depois apanhei o avião e mudei-me para o Norte. Foi o melhor que me podia ter acontecido! Senti-me bem desde o início, porque senti que estava no sítio certo e a partir daí foi tudo muito fácil. Amigos, escola, voluntários e o mais importante, Família.

Posso garantir que estou a aproveitar tudo ao máximo! Vou a tudo o que posso e estou sempre à procura de “mais”, viagens, passeios, museus, festas, tudo! Tem sido cansativo, digo desde já. Uma desvantagem, no meu caso, é que perco um ano de escola. No entanto, ganho muitos de experiência de vida. Sei que não somos todos iguais nem pensamos da mesma forma, mas acho experiência de vida muito mais importante quando em comparação com um ano escolar e só posso agradecer aos meus Pais naturais por pensarem como eu.

Sim, Pais naturais, porque agora tenho uma outra Família, uns outros Pais, que são tão meus Pais como os Naturais.

Sempre fui uma rapariga que gosta de estar com a Família. Ao fim-de-semana, entre uma saída à noite e jantar com os meus Pais, são raras as vezes em que tenho dúvidas e tive a sorte (ou talvez tenha sido o destino) em ter calhado na melhor Família de acolhimento de sempre. Também para eles, esta está a ser a sua primeira experiência e estão a sair-se lindamente!

Obviamente que não me senti 100% parte da Família desde o primeiro segundos em que apertámos a mão no aeroporto, mas é assim que deve ser, senão seria falso. Aos poucos e poucos comecei a sentir-me uma verdadeira Lombardi! Demonstraram montes de vezes que são a minha Família, com gestos pequeninos.

Lembro-me que poucos dias depois de ter verdadeiramente participar neste programa de escâmbio, pus-me a ler os testemunhos e li um sobre um rapaz que tinha perdido o Avô enquanto estava fora e que foi relativamente fácil de ultrapassar a situação devido ao apoio familiar. “Coitado!”, pensei. A vida dá tantas voltas que aconteceu-me o mesmo. Recebi a notícia mesmo a seguir de jantar e a minha irmã simplesmente se deitou ao meu lado, na cama, por meia-hora. Parece insignificante, mas não. No dia seguinte, a minha Avó “emprestada”, que é tanto minha Avó como as minhas naturais, disse “não te preocupes, tens-me a mim aqui, tens aqui uma Avó”. Repito, pode mesmo parecer insignificante, mas não é, de todo. Esta Avó “emprestada” é tão importante para mim! Pela primeira, tive uma Avó que vive a 10 passos de mim e que vejo todos os dias. Apetece-me chorar só de pensar no próximo ano.

Ganhei duas Irmãs que só falta termos o mesmo sangue. Também pela primeira vez, calhou-me a ser a mais velha; o meu papel inverteu-se, que sempre fui a princesa mais nova de casa. Pode parecer estranho, mas sinto que tenho o papel de as proteger, de algum modo. E quanto aos meus Pais…bem, digamos só que peço-lhes todos os dias para me deixarem viver aqui para sempre.

Mas sejamos coerentes: nem tudo é um mar de rosas. Aqui, perdi a minha independência. Se quero ir a algum sítio, já não posso sair de casa e chegar onde quero com meia dúzia de passos. É tudo longe! E os autocarros não passam com muita frequência. Vivo em colina, a meia hora da cidade maior, Como. Para não falar das festas de anos perdidas, viagem de finalistas perdida, ano de escola perdido, quilos ganhos (!!!). Mas e então? “Lose some, win some.” Este ano fiz coisas que nunca imaginei! Em vez de passar a passagem de ano na discoteca, como é tradição, passei-a dormir porque dia 1, bem cedo, levantei-me e fui aprender a esquiar com os meus amigos e irmã! Posso dizer que foi a melhor passagem de ano que passei até hoje. Estas eram os “contra”, mas já os sabia antes de ter tomado a grande decisão que tomei. A verdade é que não me arrependo de nada.

Aprendi o verdadeiro significado de ‘viver’ e ganhei um espírito novo. Agora é sempre para a frente e nunca mais estar parada no mesmo sítio por muito tempo! Outra coisa, muito importante, foi o novo orgulho que ganhei pelo nosso Portugal. Estar fora faz-nos perceber o que realmente temos e somos e não podia estar mais orgulhosa por ser portuguesa.

Margarida Rezende; estudante AFS 2014/2015, Itália