Foi-me proposto um desafio de escrever um testemunho sobre o meu intercâmbio e cheguei à conclusão que não tenho palavras para descrever estes passados 5 meses.

Estar aqui na Finlândia após 5 anos a ansiar sair do meu casulo é uma sensação indescritível. Todo esse tempo deu-me oportunidade para reflectir sobre o porquê de querer ir para o outro lado da Europa, para o frio doloroso, para a terra de tímidos, das batatas e da sauna mas, acima de tudo, se queria mesmo fazê-lo. E queria. Nunca, nem por um instante, recuei na minha decisão de participar neste programa. Só o pensamento de aprender uma nova língua, conhecer e fazer parte de uma nova cultura e acima de tudo encontrar um lugar que posso chamar de “casa” fora de Portugal, enchia-me, e ainda me enche, o coração de felicidade.

Não foi até ao momento de “este é o teu novo quarto” que a realidade me atingiu e me apercebi que realmente iria estar 10 meses fora de casa. Confesso que as primeiras semanas não foram fáceis. A latente sensação de não pertencer, as saudades do meu conforto e dos costumes portugueses e da minha “rotina” foi o que mais me custou. Passei de viver no centro da cidade para viver no meio da floresta, a 20km de qualquer tipo de civilização. Assim sendo, tenho de me levantar às 6 da manhã todos os dias para apanhar o autocarro às 6:50, o que é uma tremenda mudança considerando a caminhada de 5 minutos que fazia todos os dias para a escola. Para além disso, a timidez do finlandês e o silêncio na escola chocou-me imenso numa época inicial, coisa a que não estava habituada sendo a escola portuguesa bastante barulhenta a ponto que se torna irritante e o português um espécime caloroso e falador. Ademais, a língua é completamente diferente e sem qualquer semelhança a outra qualquer, o que, apesar de ter essa noção, não estava tão preparada para o choque como pensava. No entanto, nesta fase em que me encontro, isto tudo que me atormentava agora é-me familiar. Já sinto que a sauna não está quente o suficiente, estranho quando não há batatas em todas as refeições mas, continuo a odiar salmiakki!

Penso que o que torna a minha experiência tão única e diferente da maioria é o facto de eu viver com outra estudante de intercâmbio, a Johanna da Alemanha. A relação que tenho com a minha família de acolhimento é boa porém distante, portanto, ao partilhar o quarto com uma rapariga, com quem me identifico imenso, a vivenciar o mesmo que eu é realmente uma dádiva. Ganhei uma família e uma irmã e isso é inigualável!

Com toda a sinceridade, já nem quero regressar a Portugal! Entristece-me pensar que vou ter de “deixar para trás” tudo o que me é familiar e rotineiro nesta minha nova casa, nesta minha nova escola e nesta minha nova comunidade.

Já fiz coisas que nunca sonhei fazer como, por exemplo, chegar à escola e ter a minha professora de música à minha espera para me anunciar que vou cantar com o coro em sueco em frente à escola toda para as celebrações de Sankta Lucia dentro de 1 hora. Escusado será de dizer que o meu contacto com sueco é praticamente nulo. Mas mesmo assim fi-lo. Penso que não conseguiria arranjar uma melhor analogia para o meu intercâmbio. As oportunidades são-nos atiradas à cara e temos que as agarrar no instante antes que escapem.

Tive também a oportunidade de visitar a Estónia, já duas vezes, contando com uma terceira, uma viagem à Lapónia em Fevereiro (a época ideal para se ver auroras boreais), e viagens a realizar-se aos países vizinhos – Suécia, Noruega e Rússia – tudo isto e muito mais pelo qual estou mais grata do que alguma vez serei capaz de transpor em palavras.

Tenho que admitir que é bastante penoso, deixar tudo para trás, padecer a solidão inicial e, passado quase um ano, voltar a despegar-nos dos novos laços criados e voltar para casa, com a sensação que tudo permanece o mesmo, mas, na verdade, não trocava essas dores por nada neste mundo.

Ainda não saí daqui e já parece tudo um sonho.

Sara Morais
Estudante AFS 2017/2018 | Portugal – Finlândia